Foi quando então pude ver aquele circo de horrores. Várias partes do belo corpo de Liena compunham, em meio a muito sangue, as mais belas obras de arte já produzidas pela humanidade. Sua boca me sorria através da enigmática Mona Lisa. Seus fartos seios enfeitavam o apolíneo corpo de Davi. Sua mão, por meio do indicador, tocava o dedo de Deus. Seu tronco e pernas haviam sido postos em Afrodite. Por fim seu rosto, desfigurado, era a face da Esfinge, de onde, logo que o fitei, ouvi um sussurro a me questionar:- Por quê você me matou!?
- Como assim eu te matei?
- Decifra-me ou te devoro!
E logo que ouvi a ameaçadora sentença as obras tomaram vida e mi vi cercado pela esfinge e seu séqüito abominável. Deus, Adão e Davi se postaram atrás de mim, frustrando qualquer tentativa desesperada de fugir por ali. Mona Lisa, Afrodite e a Esfinge, à minha frente, lançavam-me uma tríade de olhares demoníacos. Busquei naqueles olhos sem brilho a resposta para aquele absurdo. Nada pude ver além do ódio que eles tão claramente estampavam. As lágrimas que me molhavam o rosto não serviriam como resposta e então me apressei em formular qualquer coisa em minha mente atormentada. Assim que ia falar aquilo que consegui organizar, a porta, que parecia a quilômetros de onde estávamos, foi aberta violentamente deixando passar um mulherzinha bem pequena. Olhos negros, cabelos loiros e compridos, dentes brilhantes. Sua voz, num tom messiânico, gritou:
- Foi por mim que você a matou!
No mesmo instante as obras voltaram a ser pedra e óleo.De Liena apenas algumas manchas de sangue a blasfemar o tesouro artístico daquela sala. Com a cabeça em turbilhão me aproximei da garota:
- Quem é você!?
continua...