sexta-feira, maio 19, 2006

A Casa - Parte II - Yellow Submarine

Com o olhar perdido e opaco ele me apontou um canto da grande sala e disse entre os dentes:
- Siga os submarinos amarelos.
Balancei a cabeça negativamente como quem diz "coitado" e me levantei sem esperança nenhuma de ver por ali qualquer coisa amarelada. Fui em direção ao lado mais claro do salão e só agora percebia como era grande. As paredes cobertas de quadros certamente pintados por grandes gênios. Esculturas acotovelando-se aos quatro cantos. O lustre daquele lado, como o astro rei, dava vida ao ambiente inundando-o com sua quente luz. Além da majestosa escada central a sala tinha acessos a vários outros compartimentos através de estreitos corredores e de inúmeras portas das formas mais variadas: madeira, ferro, vidro... mas nenhuma delas era tão imponente quanto a grande porta central. Na forma de uma ferradura, media uns cinco metros de altura e deixaria passar confortavelmente seis fortes homens lado a lado. As trancas metálicas deviam pesar tanto quanto as duas folhas de madeira que a compunham. Atraído pelas letras em tom escuro entalhada no grande portal, me aproximei e então de perto pude ler:
Per me si va ne la città dolente,
per me si va ne l'etterno dolore,
per me si va tra la perduta gente.

Giustizia mosse il mio alto fattore:
fecemi la divina podestate,
la somma sapienza e 'l primo amore.

Dinanzi a me non fuor cose create
se non etterne, e io etterno duro.
Lasciate ogne speranza, voi ch'intrate.

Li sem quase nada entender daquela língua estrangeira, mas tive uma forte impressão de já ter visto aqueles versos em algum outro lugar. Pensei em tentar abri-la mas as imensas trancas que a cerravam pareciam gritar em coro para mim que eu não iria conseguir, então dexei-a e olhei com mais confiança para as portas do outro lado. Uma delas devia levar a Liena. Tomei o último trago de rum que ainda me restava e fui em direção a uma das portas. Ao passar por um dos corredores ouvi uma música que logo julguei conhecer. Parei ali e logo me vi cantarolando: "... we all live in a yellow submarine / yellow submarine / yellow submarine...". Olhei para o soturno músico que agora exibia um tímido sorriso. Agradeci-o gestualmente e segui corredor a dentro.
continua...

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