São 12:17 da madrugada de sábado do mês da festa de momo e aqui estou, diante de um monitor que me mostra uma imagem meio fosca (hoje mesmo comentei com os amigos sobre como ficou bom o “serviço” feito nele quando da sua “queimação”) e sob | |
uma iluminação precária que vem do banheiro do quarto onde estou já que o maldito bulbo da lâmpada deste agradável recinto teima em não querer incandescer-se, o que me força a teclar de forma lenta este texto que até esta linha não sei de que irá se tratar e muito menos pra que cargas d’água esteja sendo escrito. Já que não tenho um tema definido até então, vou tentar escrever algo de que toda pessoa na minha condição, de homem, no sentido sexual da palavra, têm sempre em mente: mulheres (nesse momento pensei em escrever sobre cerveja, mas é um tema bastante complexo comparado a mulheres e deixo pra outra noite sem sono escrever alguma bobagem sobre este líquido). Como estou meio fraco de mulheres ultimamente (esse meio fraco é em virtude de qualidade e não de quantidade) vou tentar fazer uma análise a partir de fatos e dados observados nas últimas horas como se fosse um daqueles caras (acho que são biólogos, ou naturalistas) que dedicam suas vidas na observação de animais em seu habitat natural para compreender (ou tentar) o modo de vida das criaturas observadas. Então aqui vai o meu relatório.
07/02/2004 |
quinta-feira, fevereiro 10, 2005
Relatório de um pseudo-biólogo alcolizado
Morte
A morte, que a tantos já fez tombar
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terça-feira, fevereiro 01, 2005
Eterno Embate
O Mal tornou-se tão forte que acabou por vencer o Bem. Aprisionou-o nos porões fétidos e sombrios de sua morada de onde o Bem não podia se manifestar. Assim, o Mal triunfou soberano sobre a Terra, após incontáveis anos de conflito, finalmente estava no poder. | |
Sob seu reinado, os simpatizantes do Bem foram aniquilados, exterminados, caíram todos à sombra da maldade. A legião do Mal estava estabelecida. Com a total derrocada dos benignos, os malignos não tinham mais com quem lutar, ou mesmo, um porquê para lutar. E então tudo ficou em paz. O Mal procurou inimigos, em vão, todos sob seu poder, que era tudo o que existia, lhe eram fiéis e subordinados e não ousavam desafiá-lo. Assim a maldade, razão de ser do Mal, estava em decadência. Não era praticada, e por conseqüência, o poder do Mal ia gradativamente se exaurindo. Sozinho, em sua morada, o Mal, pela primeira vez em sua existência, adormeceu. Ao acordar, não se sabe quanto depois, sentia-se forte novamente, revigorado. Mas não como antes. Não lhe interessava mais a maldade, mas sim, fazer o bem. A ausência de maldade transformara-lhe no Bem, e, por conseqüência, seus subordinados transformaram-se em seres benignos. Lembrou-se do cativo no seu porão, e logo apressou-se em libertá-lo. Ao abrir as portas do asqueroso cativeiro, sentiu um duro golpe da maligna espada que um dia empunhara. O Mal ressurgia das trevas, ávido por vingança.
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Sortilégios
- Já vai ? Que tal vir até aqui, não sabe o que tem a perder.
Olhei assustado para a porta. Mirei o chão abaixo da porta, que, como outras tantas portas de banheiro público, não vão até o chão. Nada, nenhum sinal de pés ali. Ajudado pela cerveja, imaginei a dona da voz em posição sexual sobre o vaso sanitário, a me esperar, e não pensei duas vezes:
- Opa! Só se for agora! – respondi, abrindo a porta.
Para meu espanto, nada, ninguém, apenas um maldito vaso sanitário habitava aquele cubículo imundo. Abri as outras portas, nada. “Acho que já bebi demais” – pensei. E fui saindo, ainda intrigado. Na porta do banheiro surpresa maior me esperava. Um sorriso, ainda mais enigmático que o da Mona Lisa, estampava o rosto de uma belíssima loira, que olhava penetrantemente nos meus olhos. Devia ter uns vinte e pouco anos. Era o tipo de mulher que habita todos os sonhos sexuais masculinos, e talvez até femininos. Trajava uma roupa espantosamente extravagante. Saia preta, digo mini-saia, digo ainda micro-saia, de couro que combinava com a bota que chegava até os seus joelhos. A blusa rosa, com um decote abismal, deixava à mostra boa parte do farto par de seios que carregava. Seus cabelos – loiros, lisos e compridos – pareciam fios de ouro que caíam da sua pequena cabeça.
- Olá, achou que eu tinha ido embora ? – disse ela com a mesma voz que ouvi no banheiro.
- Não..., sim..., é, sei lá, como foi que tu saiu de lá ?
- Isso não importa, o que importa é que estou aqui, a seu bel-prazer – respondeu lançado-me um olhar ainda mais sedutor.
- Égua doido! – exclamei – Deus enfim olhou para mim.
Tentei pegar a sua mão, ela recuou.
- Que foi ? Não era ao meu bel-prazer ?
- Calminha aí, apenas me siga e terá o que deseja – respondeu-me já indo em direção as pessoas que dançavam aquele maldito forró.
- Tá bom então – disse dando de ombros – mas vou logo avisando, não sei dançar isso aí.
- Falei que terá o que deseja, e certamente sei que o que tu queres não é dançar essa droga de música.
- Taí, acho que vou me apaixonar. – o entusiasmo tomava conta de mim – Como é mesmo teu nome ?
- Trilian, pode me chamar assim.
- Trilian!? É nome ou apelido? – perguntei sem pensar.
Enquanto conversávamos sobre nomes e outras abobrinhas percebi que Trilian não chamava atenção de ninguém. Inexplicavelmente as pessoas, principalmente os homens, ignoravam a presença daquele rosto, daquele corpo e ainda daquelas roupas! Impossível, inconcebível, inaceitável.
- Vamos, precisamos andar mais rápido.
- Pra quê a pressa Trilian, a noite é uma criança – ponderei
- Não podem saber que eu não estou em casa.
- Estamos indo para sua casa!? – perguntei serrando as sobrancelhas
- É, digamos que sim – respondeu e continuou andando
- Mas como vamos para lá, tu tens carro? Eu estou de carona.
- Apenas siga-me se vais querer realmente alguma coisa.
E assim foi feito. Fui seguindo-a como faz o urubu à espreita de um moribundo. A música ia ficando cada vez mais baixa, as luzes cada vez mais fracas. Pensei em perguntar para onde raios estávamos indo, mas preferi não arriscar. Seguimos pelo campus, passamos pelo prédio da administração, do banco, até pela biblioteca que já ficava bem distante dos outros prédios e da festa que já não dava sinais de existência. E ela no mesmo passo, apressada, determinada, nem sequer olhava para trás, sua bela anca fazia movimentos hipnotizantes e a esta altura eu já estava sob efeito hipnótico, imaginando por onde começaria o banquete. Olhei ao meu redor e vi que estávamos indo em direção ao prédio de anatomia, depois dele só mais alguns prédios e estaríamos fora do campus. A uma pequena distância do prédio ela enfim virou-se. Tentei me aproximar, ela fez sinal que parasse. Ia falar, pediu-me silêncio e pôs-se a despir-se. Os botões do pequeno tecido rosa que cobria-lhe os seios iam sendo arrancados, um a um, com força e delicadeza. O sexto e derradeiro botão caiu e meus olhos desejaram ser boca, língua. Grandes, mas pequenos, moles, porém duros. Daqueles pequenos orbes róseos mel deveria ser derramado. Percebendo minha intenção de chegar mais perto, ela pediu-me calma, que primeiro deleitaria meus olhos, depois todo o resto. Pediu que eu me sentasse e colocasse as mãos no chão, com as palmas para baixo. Sem entender muito, não hesitei. Ela se aproximou. Minhas pernas, esticadas e juntas ao chão, passaram pelo vão das suas, que caminhavam abertas em minha direção. A centímetros de tocar-me a face com sua genitália parou e pousou as solas das suas longas botas sobre as minhas mãos prendendo-as junto ao chão. Incrivelmente o peso sobre as minhas mãos parecia não existir, mas, ainda que imperceptível, manteve-as no lugar. Começou a rebolar de um jeito de causar inveja a qualquer mulher que faz desse ato um ofício. E subia e descia, e descia e subia. Eu, em êxtase, mudo, enfeitiçado. De súbito, arrancou a saia de uma só vez. Minha reação imediata foi de levar a boca de encontro àquele triângulo dos prazeres. Fui contido pela atenta sola de sua bota que rápido apoiou-se sobre meu peito, e, lentamente, foi levando-me ao chão. Eu deitado, ela em pé, completamente nua, exceto pela bota que atava-me as mãos. Remexeu-se mais um pouco. E então veio o gran finale. Virou-se, ficando de costas, como ainda não tinha feito sem roupas, mas ainda com os pés a me prender, obviamente invertendo os pares pé-mão. E mexia os glúteos de maneira esplendorosamente sensual. Suas nádegas pareciam ter sido “photoshopadas” como fazem com as famosas das revistas, mas, aqui, o photoshoper era Deus, ou o diabo. Mirou-me, com o sorriso marcante no rosto, deu uma piscadela e mandou um beijo. Sem dobrar os joelhos, lentamente foi baixando, de uma das botas, o zíper que ia até a metade de sua perna. Repetiu o espetáculo com a outra bota. Virou-se novamente e, deitando-se sobre mim, sussurrou ao meu ouvido na mais bela e sensual voz que já viajou por esse ar que nos circunda:
- Agora venha e me possua, por favor me possua, não tenha medo.
Não tive tempo de falar nada. Ela levantou, chamou-me gestualmente e correu em direção ao prédio de anatomia, logo em frente. Corri atrás numa velocidade que me daria o recorde dos cem metros rasos facilmente. Mas logo o sonho tornou-se pesadelo. Quando contornei a esquina que ela acabara de dobrar, veio o susto. Um corpo feminino, inerte, pálido, nu, jazia no chão. Olhei ao redor, não a vi. Gritei por ela, nada. Não podia ser ela, não era seu belo corpo ali estendido. Fitei o rosto do cadáver, não era realmente o seu rosto, mas o sorriso, ah o sorriso era inconfundível. Um horror descomunal tomou conta de mim a ponto de fazer-me tombar. Entre o sorriso que me fez inconsciente e a hora que comecei a escrever essa narrativa, nada mais lembro.
* Publicado na antologia de contos BRAINSTORM, pela Editora Andross
Conto de Natal
Desforço
| Deseja dizer alguma coisa antes da execução? |
Um dos agentes mergulhou uma esponja em um balde, raso d'água, que estava ao lado da mortífera cadeira. Pousou a esponja encharcada na cabeça do condenado, exatamente na região circular que, horas antes, tinha sido lambida por uma navalha. Finalmente cobriu-a com uma espécie de solidéu metálico atando-o, com tiras de couro, que se entrelaçavam sob o queixo protuberante do infeliz homem. A respiração ofegante por trás do capuz negro que cobria-lhe a face era cada vez mais forte. O agente Stan, que estava no comando ali, acenou para uma cabine que ficava atrás dos familiares e amigos da vítima que acompanhavam a execução. Quando o homem começou a se debater na cadeira, atingido por uma estupenda descarga elétrica, que enfraqueceu até a iluminação, tornando-a intermitente, uma estrondosa e aterrorizante gargalhada ecoou pelos quatro cantos do recinto. Todos levantaram-se, horrorizados, olhavam-se estupefatos, gritos de horror misturaram-se aos gritos de dor do homem que fritava na cadeira e, ainda, àquela gargalhada dos infernos que não cessava, pelo contrário, tornava-se cada vez mais ruidosa, aumentando proporcionalmente ao desespero do condenado e das pessoas que o circundava. Stan, não menos assustado que os outros, ordenou que se cortasse a descarga elétrica e, quase que concomitantemente ao cessar da dor do condenado, um silêncio sepulcral tomou conta do lugar. Todos voltaram a se acomodar, ainda chocados pelo episódio dantesco que acabaram de presenciar. Confirmada a morte do condenado, Stan, solenemente, encerrou a cerimônia. Ao abrir a porta para que todos saíssem, deparou-se com algo escrito na parte exterior da porta: "A vingança é um prato que se come frito. J." |