terça-feira, fevereiro 01, 2005

Desforço

Deseja dizer alguma coisa antes da execução?
- Não matei aquela puta, a Jane armou tudo, aquela desgraçada. Armou tudo e vocês, que se julgam tão espertos, não passam de uns tolos! Juiz idiota aquele, como pode acreditar numa história daquelas onde nem o corpo da miserável foi encontrado?
- Já chega! - interrompeu Stan - já ouvimos o bastante, terminemos logo com isso.

Um dos agentes mergulhou uma esponja em um balde, raso d'água, que estava ao lado da mortífera cadeira. Pousou a esponja encharcada na cabeça do condenado, exatamente na região circular que, horas antes, tinha sido lambida por uma navalha. Finalmente cobriu-a com uma espécie de solidéu metálico atando-o, com tiras de couro, que se entrelaçavam sob o queixo protuberante do infeliz homem. A respiração ofegante por trás do capuz negro que cobria-lhe a face era cada vez mais forte. O agente Stan, que estava no comando ali, acenou para uma cabine que ficava atrás dos familiares e amigos da vítima que acompanhavam a execução. Quando o homem começou a se debater na cadeira, atingido por uma estupenda descarga elétrica, que enfraqueceu até a iluminação, tornando-a intermitente, uma estrondosa e aterrorizante gargalhada ecoou pelos quatro cantos do recinto. Todos levantaram-se, horrorizados, olhavam-se estupefatos, gritos de horror misturaram-se aos gritos de dor do homem que fritava na cadeira e, ainda, àquela gargalhada dos infernos que não cessava, pelo contrário, tornava-se cada vez mais ruidosa, aumentando proporcionalmente ao desespero do condenado e das pessoas que o circundava. Stan, não menos assustado que os outros, ordenou que se cortasse a descarga elétrica e, quase que concomitantemente ao cessar da dor do condenado, um silêncio sepulcral tomou conta do lugar. Todos voltaram a se acomodar, ainda chocados pelo episódio dantesco que acabaram de presenciar. Confirmada a morte do condenado, Stan, solenemente, encerrou a cerimônia. Ao abrir a porta para que todos saíssem, deparou-se com algo escrito na parte exterior da porta: "A vingança é um prato que se come frito. J."

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