sexta-feira, março 16, 2007

A Casa - Parte III - Sereia

O corredor de onde vinha a música era bem estreito. Nas paredes azul-marinho que o formavam, destacavam-se, entre peixes e outros seres aquáticos, grandiosos submarinos amarelos. A música parecia sair das suas pequenas janelas circulares, repetindo ininterruptamente. O desenho dos rostos dos tripulantes eram tão reais que pareciam estar observando quem por ali passava, como que prontos a lançar um torpedo a qualquer momento. Caminhei distraído com a música e com a bela arte aplicada naqueles desenhos até que um dos submarinos me chamou atenção. Seus tripulantes não mais olhavam para quem os observava do corredor. Apontavam com espanto para um ponto a frente do submerso. Ao mirar o mesmo ponto que eles estremeci mais uma vez. Liena, em forma de sereia, nadava no belo mar retratado na parede. Ao olhar nos seus olhos a música instantaneamente cessou. Ela então, com o olhar fixo no meu, começou a entoar um canto ininteligível numa voz que devia pertencer ao mais puro dos anjos. Das palavras que saíam da sua boca não entendi nenhuma. Era um idioma completamente novo e estranho para mim. Ela então começou a nadar na direção que levava ao fim do corredor. Sem que eu percebesse me pus a seguí-la. O canto tornava-se cada vez mais alto e proporcional a altura era a velocidade com que ela se afastava. Eu já corria tentando acompanhá-la mas minhas pernas perderam feio para sua brilhante nadadeira esmeralda. Já não a via, somente a ouvia quando de repente a cantoria parou. Corri ainda mais rápido e logo cheguei ao fim do corredor. Na parede não havia mais nenhum sinal de Liena, da sereia Liena. A porta que encerrava o corredor estava apenas encostada, empurrei-a apressado na ânsia de ver mais uma vez minha amada. Assim que a luz do ambiente por trás da porta chegou aos meus olhos quase fui ao chão, completamente desnorteado...

continua

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